Raimundo Sirino
Agricultura Familiar vs Agronegócio: uma comparação essencial
Em tempos de polarização política no âmbito nacional, este tema constitui-se em um debate que movimenta o campo brasileiro. A oposição entre agricultura familiar e agronegócio é um tema que permeia as discussões que afetam sensivelmente o futuro da produção de alimentos no Brasil. Mas afinal, quais são as diferenças entre esses dois modelos de produção? E qual o impacto de cada um na sociedade e no meio ambiente?
Inicialmente, parte-se das bases conceituais, as quais se fazem necessárias ao entendimento do tema em questão. Desse modo, responderemos a duas questões principais:
O que é agricultura familiar?
A agricultura familiar, como o próprio nome sugere, é praticada por famílias em pequenas propriedades. A mão de obra familiar é predominante, e a produção é geralmente diversificada, incluindo alimentos para consumo próprio e comercialização.
Para maiores esclarecimentos, utilizaremos o que explica a Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, que define agricultor familiar como aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, os seguintes requisitos: possua área com até 4 módulos fiscais, o que em nossa região representa uma área de 240 Ha; possua renda anual de até R$ 500.000,00; utilize predominantemente mão-de-obra da própria família e tenha percentual mínimo de 50% da renda familiar originada de atividades econômicas do seu empreendimento; e dirija o seu estabelecimento ou empreendimento com a sua família.
Esse modelo de produção está profundamente enraizado na cultura brasileira, contribuindo para a segurança alimentar e a preservação do meio ambiente.
E o agronegócio?
O agronegócio, por sua vez, engloba um conjunto de atividades econômicas relacionadas à produção e comercialização de produtos agrícolas. Ele envolve desde a produção em larga escala até a industrialização e a distribuição de alimentos. O agronegócio é caracterizado pela utilização de tecnologias modernas e pela busca pela produtividade.
Verifica-se que a dicotomia entre agricultura familiar e agronegócio não é recente. Historicamente o Brasil sempre teve uma forte presença da agricultura familiar, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Com o passar dos anos, o agronegócio se consolidou como um dos setores mais importantes da economia brasileira, impulsionado pela expansão da fronteira agrícola e pela modernização das técnicas de produção.
É necessário que destaquemos ainda as principais diferenças entre a agricultura familiar e o agronegócio. Estas residem em:
• Escala de produção: A agricultura familiar é caracterizada por pequenas propriedades, enquanto o agronegócio envolve grandes áreas de cultivo.
• Diversificação da produção: A agricultura familiar costuma produzir uma variedade de alimentos, enquanto o agronegócio se concentra em monoculturas.
• Uso de tecnologias: O agronegócio utiliza tecnologias mais avançadas, como máquinas agrícolas e fertilizantes, enquanto a agricultura familiar, muitas vezes, depende de técnicas tradicionais.
• Relação com o mercado: A agricultura familiar costuma vender seus produtos em mercados locais, enquanto o agronegócio está mais integrado às cadeias globais de produção e comercialização.
A comparação entre agricultura familiar e agronegócio costuma gerar debates acalorados. Defensores da agricultura familiar argumentam que esse modelo é mais sustentável, contribui para a segurança alimentar e fortalece as comunidades rurais. Já os defensores do agronegócio destacam a importância desse setor para a economia brasileira e para a produção de alimentos em larga escala.
Dos debates acalorados surgem as inclinações da sociedade brasileira acreditar que o futuro da agricultura brasileira depende de um equilíbrio entre os dois modelos de produção. É preciso valorizar a agricultura familiar, garantindo o acesso à terra, à tecnologia e ao crédito, ao mesmo tempo em que se busca a modernização do agronegócio, com foco na sustentabilidade e na inclusão social.
Assim, pode-se concluir que a agricultura familiar e o agronegócio não são modelos excludentes. Ambos têm um papel importante a desempenhar na produção de alimentos e no desenvolvimento do país. O desafio é encontrar um caminho que permita conciliar as necessidades de produção em larga escala com a preservação do meio ambiente e a promoção da justiça social.
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Raimundo Sirino Rodrigues FIlho é Engenheiro Agônomo, Pesquisador, Extensionista Rural e Professor Universitário.
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