José de Ribamar Viana
Sonhar não custa nada
O jornalista e escritor Eduardo Galeano, nosso vizinho uruguaio, sobre utopia nos ensina que: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
No mesmo sentido, o nordestino, escritor, poeta, dramaturgo, advogado e professor Ariano Suassuna diz que: “O sonho é que leva a gente para a frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado, acomodado.”
A propósito, que tal sonharmos com um dia em que todos os entes públicos (municípios, estados e a União), portanto, nas três esferas de poder, fossem obrigatórios na Lei de Estrutura Administrativa de cada um deles ter como unidade orçamentária uma Escola de Governo com status de Secretaria?
No século XXI, diante de uma sociedade complexa, com demandas extensas e intensas, bem como envolta com a enigmática Inteligência Artificial, mais do que nunca o conhecimento faz a diferença.
Diante de imenso desafio, a adoção de uma política estruturante e sistemática de capacitação continuada dos servidores, com uma programação mensal de cursos e treinamentos variados, que contemple desde o atendimento ao público (incluindo cursos de Libras e rampas de acessibilidade, organograma e fluxograma de processos nas recepções), planejamento, execução, controle e avaliação, não tenha dúvidas de que tais medidas impactariam positivamente toda a administração.
Com os ensinamentos obtidos nos treinamentos, os serviços fluiriam muito melhor, uma vez que melhoraria a confiança no desempenho das respectivas funções (fazendo mais, em menor tempo, com menor custo e de forma mais prazerosa), “pois fácil é tudo aquilo que a gente sabe fazer”; ajuda a entender o que são deveres seus e direitos dos usuários dos serviços públicos; aumenta as chances de crescer na carreira, o que faz aumentar a autoestima etc.
Com raríssimas e honrosas exceções, nada disso acontece na grande maioria das administrações públicas. Não que essa conduta seja um desejo da imensa maioria dos contratados e servidores das respectivas administrações, mas uma decorrência de uma prática cultural centenária no Brasil de contratar ou nomear sem que haja maiores preocupações com a desejável capacitação para o real exercício do cargo ou função pública a ser desempenhada.
É oportuno lembrar que “o conhecimento é o único patrimônio (riqueza) que, quanto mais se divide, mais ele aumenta.” E mais ainda, comporta-se em qualquer lugar. Aliás, como toda regra tem exceção, o único lugar que não comporta o conhecimento é dentro da ignorância humana.
O conhecimento é inusitado mesmo, até porque carrega consigo algumas singularidades e com pelo menos dois paradoxos, tais sejam: quanto mais regional, mais universal; além disso, quanto mais a gente aprende, mais percebe que precisa aprender mais, isso porque ele tem início, mas não tem fim.
Ainda assim, alguém pode dizer que conhece uma Escola de Governo e que a mesma não funciona satisfatoriamente motivada por um problema qualquer. Isso é possível, porém, nesses casos, o problema não é da existência da escola em si, é da máquina. Ou seja, não é da implementação da estrutura escola, e sim da falta de gestão.
Ressalto ainda que aqui não se trata de proferir crítica subliminar de formas ou critérios de contratações ou nomeações a quem quer que seja. O enfoque aqui é tão somente lamentar e, mais que isso, alertar para a falta ou a pouca capacitação dos servidores no âmbito das administrações em todos os níveis de governo. Que, como o próprio nome sugere, são prestadores de serviços públicos essenciais e, nessa condição, devem prestar um serviço de excelência aos usuários. E como ninguém nasce sabendo, é preciso aprender a aprender. Sonhar não custa nada!
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José de Ribamar Viana é Advogado.
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