José de Ribamar Viana
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Fora de ordem (o poder da força x a força do poder)
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Entre o que a gente quer e o que é possível, na imensa maioria das vezes, existe uma distância abissal. Como contido na letra da música "Águas Passadas", da banda Capital Inicial:
“Nem tudo é como você quer
Nem tudo pode ser perfeito
Pode ser fácil se você
Ver o mundo de outro jeito
Se o que é errado ficou certo
As coisas são como elas são
Se a inteligência ficou cega
De tanta informação
Se não faz sentido
Discorde comigo
Não é nada demais...”
Salvo melhor juízo, o que temos visto nos primeiros dias de governo de Donald Trump nos EUA é uma imensidão de ameaças inusitadas, seja em relação a pessoas, países ou organismos multilaterais. Não quero ser ingênuo ou piegas, já que existem vários interesses inconfessáveis em jogo, mas, diante dos inúmeros desafios hercúleos que o mundo atravessa, como as duas guerras em curso — Rússia x Ucrânia e Israel x Palestinos na faixa de Gaza, além da necessidade de enfrentar as questões climáticas, energéticas, do fluxo migratório e a enigmática inteligência artificial, dos quais não sabemos ainda a extensão de seus respectivos alcances, etc.
Por tudo isso e muito mais, e principalmente por tudo que os EUA representam no cenário mundial, o melhor seria, talvez, que esses esforços empreendidos fossem direcionados para atenuar as mazelas dessas demandas, e não para essa profusão de ameaças a outros países e o menosprezo aos direitos humanos de determinados grupos de pessoas.
Os EUA, na tentativa de não perder espaço para a China, tentam imprimir “o poder da força” e não a força do poder que o país possui, ou seja, tentam ganhar no grito, ao arrepio dos tratados e convenções internacionais dos quais são signatários. Como diz a letra da música "Fora da Ordem", de Caetano Veloso: “Alguma coisa está fora da ordem; Fora da nova ordem mundial.”
Talvez a psicologia explique um pouco isso, posto que, quando alguém mais forte ou poderoso, para impor sua autoridade, bate na mesa e diz: “aqui quem manda soueu”, é porque, na verdade, quando um poder chega a esse ponto, é porque se encontra um tanto quanto desgastado ou na iminência de perdê-lo. Caso contrário, não precisa de bravatas ou bater na mesa, até porque a verdadeira autoridade se impõe naturalmente, e não pelo poder da força.
Por tudo que a imprensa noticiou sobre medidas esdrúxulas diariamente nesse curto espaço de tempo, fica bastante sintomática uma determinada insegurança de Trump, posto que ele ameaça e depois recua. Como no caso das taxações dos produtos do México e do Canadá; e como se não bastasse esse festival de iniqüidades, essa última ameaça da retirada dos palestinos (limpeza étnica) da Faixa de Gaza, aqui pra nós, foi, como se diz no popular, um balacubaco.
Dito isso, é oportuno lembrar o que disse Winston Churchill, primeiro-ministro da Inglaterra, em novembro de 1942, após a vitória britânica na Batalha de El Alamein, durante a Segunda Guerra Mundial: “Agora, isto não é o fim. Nem sequer é o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo.”
Será que tais atitudes de Trump sinalizam para uma provável disputa econômica e tecnológica ainda mais acirrada do que a existente atualmente entre os EUA e a China? E que, em um curto ou médio espaço de tempo, essa concorrência venha a ameaçar o poder hegemônico dos Estados Unidos da América?
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José de Ribamar Viana é Advogado.
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