Rogério Alves
A política pragmática e o futuro da oposição sem Bolsonaro
A política brasileira sempre flertou com o pragmatismo, e o distanciamento de alguns deputados do PL em relação a Jair Bolsonaro é mais uma evidência dessa dinâmica. Desde a eleição de Bolsonaro em 2018, o país vivenciou uma polarização intensa, onde ser oposição tornou-se quase uma marca de identidade política. Muitos parlamentares e partidos, mesmo diante da força de Lula no cenário nacional, orgulhavam-se de estar contra o governo, criando uma oposição robusta e aparentemente comprometida com seus princípios.
Entretanto, a lua de mel na oposição é notoriamente curta. No Brasil, o jogo político gira em torno de verbas, cargos e influência, e estar no governo muitas vezes é um atalho para atender as demandas do eleitorado. Por mais que um partido como o PL possua um fundo partidário considerável, o "pipo" – como é conhecido o reforço financeiro advindo de negociações com o governo – é essencial para viabilizar projetos, manter bases e, em última instância, garantir a sobrevivência política dos parlamentares.
O afastamento de parte dos deputados do PL de Bolsonaro reflete essa lógica. Para muitos, o custo de permanecer fiel ao ex-presidente e rejeitar o diálogo com o governo Lula já não compensa. Como disse um deputado baiano, "foi até a boca do precipício", mas decidiu virar a página. Essa mudança não só revela as fragilidades das alianças formadas sob Bolsonaro, mas também coloca em xeque a força da oposição sem o protagonismo do ex-presidente.
A grande questão que se coloca para 2026 é: como será a oposição sem Bolsonaro? Será possível organizar uma frente coerente e combativa, ou o pragmatismo e a falta de um líder carismático enfraquecerão os críticos do governo? A resposta a essa dúvida pode moldar não apenas as eleições, mas também o futuro do debate político no Brasil.
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